quinta-feira, 21 de março de 2013

Mães que giram pratos

De vez em "sempre" vivo um conflito no que diz respeito a carreira, futuro, filhos, casa, família e tudo aquilo que turbilha os pensamentos de uma mãe que trabalha fora, mas tem loucura de se dedicar mais a coisas que realmente fazem nossa alma mais leve.
Daí então, passeando pelo blog da Anne Rami deparei-me com um texto que mexeu comigo e acho que muitas mães também se identificarão depois de lê-lo.

Fique leve depois da leitura... assim como eu fiquei!




"Carreira não é um dilema pra quem não quer subir na vida"
Demorou um tempo para eu descobrir que eu nunca tive esse dilema. Eu simplesmente vivi uma crise porque era esperado que eu demonstrasse que me preocupava muito com a minha carreira e igualmente com os meus filhos.

Foi em terapia que eu tive a clareza: eu não sou carreirista. Apesar de toda uma demanda do meu contexto para que eu encontrasse uma carreira, e nela bem sucedesse, foi possível depois de alguns anos no divã entender que eu não fui feita para isso. Em termos de trabalho eu não sou mulher de um homem só. Piriguete define.

Percebi que sou plural, assim. Em alguns segundos consigo elencar uma lista de interesses genuínos, e para os quais eu tenho alguma aptidão que possivelmente (e também um pouco fruto da minha personalidade cabeção) me levariam a ter uma carreira estável, com algum sucesso.

Design de Interiores, Artes Plásticas, História, Letras, Pedagogia, Publicidade, Artesanato, Música, havia um arco-íris de coisas que eu me sentia apta a fazer. E fui pipocando dentro de alguns ciclos entre estas vertentes, ainda sem compreender muito bem o porque eu não conseguia me estabilizar.

Até que chegaram os filhos e eu tive um novo mundo revelado para mim. E entendi que para muitas pessoas o sucesso é um conceito multifatorial, mesmo quando aplicado dentro do universo "carreira". E que no meu caso, para o tipo de ingredientes que compõe a complexa receita de pão cascudo que eu sou, sucesso jamais estaria em usar meu tempo longe da minha família para gerar dinheiro ou satisfação pessoal. Já que o segundo eu encontrava ao alcance das mãos, onde houvesse algum acesso à cultura, talvez pincéis e tinta, um grupo de mulheres disposto a conversar, um coro de vozes afinadas ou a possibilidade de mexer com plantas.

Percebi que não havia dilema. Ficar na paranóia de que eu precisava ser reconhecida por algum tipo de trabalho (que convenhamos, hoje em dia é um tipo de reconhecimento que está diretamente relacionado ao acúmulo de dinheiro, na grande maioria dos casos) era mais do que um desgaste: era perda de tempo. Percebi que para muitas pessoas, a carreira simplesmente não importa e tudo bem.

Mas peralá, voltei a ser uma Amélia, jogando na privada todas as contribuições de nossas antecessoras feministas, de minha própria mãe que abdicou da maternidade plena para nos prover o conforto com o qual até hoje contamos (e pelo qual sou eternamente grata), e dependendo de outras pessoas para prover meu sustento, enquanto lavo, cozinho e costuro as calça do marido? Não. 

Mas eu gosto de falar que quase isso.

Meu jeito de lidar com maternidade e "profissão" (já tendo desistido de achar que existe o príncipe encantado das carreiras esperando por mim) foi promover desconstruções das coisas que eu tinha como certas e resgatar possibilidades perdidas. Abandonei carreira e nunca abandonei trabalho.

Em um dado momento percebi ainda, na mesma onda que venho surfando há anos, que trabalho também não está diretamente ligado à renda em dinheiro. E para isso conto com a minha esperteza de ter escolhido possivelmente o melhor parceiro para construir uma família. Conseguimos no dia a dia, em eterna discussões e reformas, nos respeitar pelas contribuições que ambos fazemos, ao mesmo tempo que avaliamos as necessidades de satisfação pessoal que cada uma das almas envolvidas demanda. E o mais importante: dividir igualmente o ônus e o bônus daquilo que nos é comum. Filhos, casa, projetos futuros.

Parece o paraíso, falando assim. Mas é foda pacas.

Porque também tendo optado por investir meus esforços não para uma carreira, nem para um trabalho fixo remunerado, comecei a enxergar a importância da minha participação ativa nas coisas que me cercavam. Até como forma de compreender o mundo em que eu vivia: lembre-se era desconstruir para construir de novo, nos meus moldes.

Larguei emprego, mandei empregada embora, tirei criança da escola e sigo vivendo há muitos meses outros tipos de dilemas e exercícios. O mais importante deles é saber priorizar.

Não é à toa que em todos os lugares as mulheres contemporâneas são representadas com multi-braços. Ou como equilibristas dos pratos, esse é meu ícone favorito. 

Todo aquele processo de reflexão me fez ver (e eu preciso estar atenta para esse processo constantemente, porque nada é definitivo, estamos nos reinventando o tempo todo) que havia alguns pratos que eu simplesmente pegava pela minha tendência de abraçar o mundo ou por inércia de comportamento. Tipo manicure semanal compulsória. Ô glória de parar de perder esse tempo com uma coisa que não era exatamente da minha essência, na medida que eu entendi que era somente uma reprodução de comportamento. Não que eu não goste de fazer as unhas de vez em quando (eu ainda estou em área de teste sobre esse quesito), mas me faz muito mais feliz gastar aquela horinha num livro ou num documentário interessante na TV. Quebrei um monte de prato assim.

É assim que eu costumo me enxergar e uso essa alegoria nos meus momentos de crise.

Os que ficaram, precisam da minha energia para manterem-se no ar. Filhos, Marido, Família, Casa, Eventuais Trabalhos Remunerados, Lazer, Interesses Pessoais e por aí vai. Costumo me dedicar mais integralmente àqueles que não podem parar de girar. Quando estão piruetando livres, toco para atender aqueles que já estão cambaleando. Se vejo que algum vai cair antes que eu chegue, estou aprendendo a pedir ajuda. Essa parte para mim é difícil, pois eu confundo a criação para o "não depender" com acessos de super-poderes. Mas eu tenho a segurança de que, nessa lógica de conciliar tudo, se eu estiver atenta à quais pratos realmente são prioridade, não é uma grande desgraça quando eu não consigo ser rápida o bastante para atender algum, ou ser esperta o suficiente para pedir ajuda antes que ele se esbudegue no chão.

E daí aprendi uma coisa linda sobre essa metáfora: não é sobre os pratos. Porque eles caem, quebram, a gente varre e recomeça com outro no lugar. É sobre a energia genuína de mantê-los rodando.

E assim, eu só me dedico ao que verdadeiramente amo.

E de tempos em tempos eu tenho ataques de preguiça, ansiedade, histeria, confusão, excesso de confiança, otimismo como qualquer mortal. Estou aprendendo a relacionar o meu humor com as fases da Lua, como uma forma de me integrar com as leis da natureza. E parar de procurar explicações para as minhas frustrações em projetos do mundo externo. Meu auto conhecimento faz de mim uma mãe cada vez melhor e uma funcionária cada vez mais improvável."


Ps: Publicado com a permissão da Anne. Pode olhar nos comentários lá no blog dela rsrsrs

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